Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

 Florbela Espanca 

Pois que venham,
Pois que digam.
Minhas respostas foram deturpadas,
Minhas versão corrompida,
Meus direitos negados,
Minhas voz abafada.

Pois que venham,
Pois que digam.

Não quero me calar, nem que seja em sussurro, mas precisa ser ouvido.
Roubaram meus passos, limparam o que levava nas mãos,
Levaram tudo e me deixaram fome.
Venderam o poder, e ainda de brinde levaram os pobres.

MAQUINAS TRABALHEM !

Este é o grito, ecoado na mente dos escravizados atormentados.
Nosso suor sendo validado para construções de mansões,
Isso não passa em propaganda!
Elefantes cinzas erguidos, enquanto nossas crianças são jogadas ao chão pelos mesmos,
Colocando a vida a prova,
Nada é mudado se não de lugar.

Pois que venham,
Pois que digam.

Foram os nossos olhos que viram meninos do Morro do Alemão sendo eliminados,
será que somente compete a seus familiares chorarem?
Enquanto nós tínhamos como ganho da dita Policia Militar.
A nossa vergonha foi posta á mostra para o mundo nos criticar.

É mais um vez impõem  a tarefa de anunciar,
A qual estaremos calejados de ouvir falar...
Cabe ao Reporte adentrar a nossa vista, sem derramar se quer uma lágrima e nos anunciar.
" Mais de duzentos homens fogem pelas matas do Alemão, alguns feridos e outros mortos".

Mas para que nos importamos tanto?
Se logo a noite virá a novela para nos aliviar de todos os bombardeios do dia-a-dia,
De toda a camuflagem do GOVERNO.

Nem que seja um sussurro!

Pois que iremos,
E pois que falemos.

Gabriel Tiburcio